Manifestações convocadas pela União Nacional dos Estudantes (UNE) e pela União Brasileira dos Estudantes Secundaristas (Ubes) contra o contingenciamento de verbas para a Educação reuniram nesta quinta-feira milhares de pessoas em ao menos 22 Estados e no Distrito Federal.
Estudantes e professores voltaram às ruas para protestar cinco dias após as manifestações em favor do governo do presidente Jair Bolsonaro e em defesa das reformas, no domingo passado. Com público menor e mais segmentado em relação aos atos realizados no dia 15, os protestos de ontem contaram com o apoio de centrais sindicais, contrárias à reforma da Previdência.
Os atos não contaram com a participação formal das legendas de oposição, mas em diversas capitais houve a participação de líderes políticos e a defesa de bandeiras como “Lula Livre”. Foram contabilizados protestos em cerca de 100 cidades do País.
“A gente avalia que a manifestação do dia 26 (pró-governo) foi significativa, mas não queremos comparar os dias 15, 26 e 30. São propostas diferentes. Não queremos briga de torcida”, disse a presidente da UNE, Marianna Dias, durante o ato no Largo da Batata, em São Paulo.
Em Belo Horizonte, manifestantes se concentraram na Praça Afonso Arinos, na região central. “Nosso recado aqui, hoje, é que não dá para suportar o corte que está sendo feito pelo governo federal. Vai atingir o dia a dia da universidade (Federal de Minas Gerais)”, afirmou a coordenadora do Sindicato dos Trabalhadores em Instituições Federais de Ensino (Sindifes), Cristina del Papa, para quem a UFMG deve perder R$ 65 milhões com o contingenciamento.
No Rio, os manifestantes se concentraram ao redor da Igreja da Candelária, a partir das 15h, e por volta das 18h30 seguiram em caminhada até a Cinelândia. Durante todo o trajeto foram entoados coros como “não é balbúrdia, é reação /é estudante defendendo a educação”. Também havia faixas e cartazes com críticas ao presidente Jair Bolsonaro e ao ministro da Educação, Abraham Weintraub.
O Ministério da Educação divulgou nota ontem afirmando que “nenhuma instituição de ensino pública tem prerrogativa legal para incentivar movimentos político-partidários e promover a participação de alunos em manifestações”. “Com isso, professores, servidores, funcionários, alunos, pais e responsáveis não são autorizados a divulgar e estimular protestos durante o horário escolar.
Caso a população identifique a promoção de eventos desse cunho, basta fazer a denúncia pela ouvidoria do MEC”, diz ainda a nota, concluindo que “os servidores públicos têm a obrigatoriedade de cumprir a carga horária de trabalho” e não poderiam “deixar de desempenhar suas atividades nas instituições de ensino para participarem desses movimentos”O texto destaca também “que a saída de estudantes, menores de idade, no período letivo precisa de permissão prévia de pais e/ou responsáveis e que estes devem estar de acordo com a atividade a ser realizada fora do ambiente escolar”.
Bolsonaro não fez menção ontem aos atos. No último dia 15, ao falar dos protestos, o presidente se referiu aos manifestantes como “idiotas úteis”.
Cortes comprometem as universidades, afirmam estudantes
Estudantes que foram aos atos pelo País – a manifestação em São Paulo começou no Largo da Batata – criticaram os cortes na Educação e temem que a decisão do governo Bolsonaro afete o ensino nas universidades públicas, federais ou estaduais.
Aluna de Fonoaudiologia na Unifesp, Isabella Guedes, de 19 anos, disse ter ido à manifestação por ter medo de não concluir a graduação que iniciou neste ano, com o congelamento do orçamento da universidade. “Já faltam coisas básicas no campus, de materiais a professores. Como podem cortar ainda mais verba?”, afirmou.
As irmãs Sarah e Grace Yitzhak, de 23 e 24 anos, foram juntas ao protesto. Mesmo em momentos diferentes da vida escolar, ambas temem que a política atual para a Educação as impeça de estudar. Sarah estuda para fazer o Enem no final do ano e quer cursar Filosofia. “Há tanta insegurança na Educação que não sei nem ao menos se teremos Enem neste ano”, disse.
Já Grace está no último ano do curso de Química, na Unifesp, e disse temer não conseguir terminar a graduação neste ano. “Com o bloqueio do orçamento, a Universidade só tem dinheiro para funcionar até setembro. Depois disso, como ficam os estudantes?”
Médica residente da USP, Thais Fink, de 29 anos, disse que o bloqueio de recursos a preocupa por afetar não só a educação, mas diversas políticas públicas de saúde. “A pesquisa que fazemos é importantíssima para a sociedade e para a saúde. O governo não tem dimensão da importância do que é produzido nas universidades.”
Em Curitiba, os manifestantes se reuniram na Praça Santos Andrade e caminharam em direção à Boca Maldita, na região central da capital paranaense. Para a estudante de pós-graduação em Recursos Humanos Renata dos Santos Mattos, de 28 anos, a mobilização mostra a indignação das pessoas contra a política do governo. “É um erro querer cortar de onde não pode, deveria fiscalizar outros setores. Por que não reduzir os próprios salários dos políticos?”, afirmou.
O professor de Mestrado da Universidade Federal do Paraná (UFPR) Ary Azevedo considerou a manifestação como um ato de resiliência. “É resistência que estamos fazendo contra os ataques do governo à Educação”, disse.
Em Porto Alegre, os atos começaram na Esquina Democrática, no centro. O manifestantes seguiram em caminhada rumo ao Largo Zumbi dos Palmares, no bairro Cidade Baixa. Para o assistente social Agnaldo Engel, de 34 anos, “a luta é por uma educação pública gratuita, laica e de qualidade. Estamos aí batalhando contra todos os cortes que o governo federal está fazendo”, disse Engel, graduado pela UFRGS.
Em Salvador, as manifestações começaram pela manhã, no centro da cidade. A presidente do Sindicato dos Professores das Instituições Federais de Ensino Superior da Bahia (Apub), Raquel Nery, tentou minimizar a presença das centrais sindicais no movimento, dizendo haver uma relação direta entre a pauta dos estudantes e a dos sindicatos. “O protesto foi organizado pelos estudantes e é deles o protagonismo. As demais entidades apoiam o movimento. Não podemos dar a esse 30 de maio a cor das centrais sindicais”, disse.
Como no ato passado, sobraram críticas também para o governador da Bahia, Rui Costa, que é do PT. “Governador, que baixaria, educação não é mercadoria”, gritavam alunos e professores da UNEB, que estão em greve há 52 dias.
/ISABELA PALHARES, PEDRO VENCESLAU, FÁBIO GRELLET e JENNEFER ANDRADE, FELIPE LAURENCE E HELOISA BAUMGRATZ, ESPECIAIS PARA O ESTADO, HELIANA FRAZÃO, LUCIANO NAGEL, LEONARDO AUGUSTO, JULIO CESAR LIMA e RITA SOARES, ESPECIAIS PARA O ESTADO