Uma avó de Santos, no litoral de São Paulo, tem gerado comoção nas redes sociais ao publicar relatos sobre a situação de seu neto, que sofreu um dano cerebral grave após se afogar em uma piscina.
O caso ocorreu no dia 10 de agosto de 2020. De acordo com a cuidadora de idosos Maria Cristina da Silva Barros, de 50 anos, seu neto, Rhavi Barros, de 1 ano, se afogou em uma piscina no sítio da família, em Itariri, no Vale do Ribeira.
Cristina estava no local para cuidar da mãe, que é cadeirante, e levou o neto junto para passear, com a autorização de sua filha, a produtora de eventos Tamires Carolina Barros Pinto Rodrigues, de 30 anos, que perdeu o emprego após a chegada da pandemia.
Rhavi começou a engatinhar durante a viagem, até então, passava o dia no colo. Na tarde do dia 10, a cuidadora soltou Rhavi por alguns instantes para ministrar as medicações da mãe. Em um curto período, o bebê se dirigiu à área da piscina, que era totalmente cercada, mas continha uma pequena abertura, e acabou caindo na piscina.
Ao perceber a ausência do neto, a avó passou a procurá-lo por toda a propriedade, gritando por seu nome, mas não obteve resposta. Ao passar perto da piscina, avistou apenas um dedo do bebê, que estava boiando na água, e imediatamente o resgatou e gritou por ajuda.
“Primeiro, eu entrei em um desespero muito grande, não sei nem explicar. Na minha cabeça, eu tinha matado ele. Eu chorava e gritava pedindo ajuda a Deus”, relembra.
Cristina da Silva Barros, avó de Rhavi, encontrou o neto na piscina já desacordado — Foto: Arquivo Pessoal
O cunhado de Maria Cristina, que também estava no local e tentou reanimar a criança, levou os dois até o hospital mais próximo, onde o menino chegou roxo e desacordado.
De acordo com a avó, assim que a equipe notou o estado de Rhavi, uma médica já solicitou o horário do óbito ao hospital. Contudo, outro profissional decidiu tentar mais um pouco, e com essa insistência, conseguiu reanimar o bebê.
Ele foi encaminhado a outro hospital para ser entubado, ainda com poucas chances de vida. “A médica disse que era quase impossível ele sobreviver, e depois de sete dias, queria desligar os aparelhos dele, porque só 1% do cérebro funcionava. Mas, para mim, aquele 1% era 100% para Deus. Eu não podia desistir dele assim”.
Os médicos, então, decidiram insistir, e em cerca de um mês o quadro começou a se estabilizar. A família conseguiu uma transferência para um hospital em Santos, contudo, por uma confusão nos prontuários, chegando ao local, Rhavi teve de esperar na enfermaria por cerca de uma hora, e acabou tendo uma convulsão. A situação do dano cerebral se agravou, e ele precisou ser encaminhado à Unidade de Terapia Intensiva (UTI), onde permaneceu até 13 de janeiro.
Bebê sofreu convulsão e foi encaminhado a UTI após confusão no atendimento em hospital de Santos, SP — Foto: Arquivo Pessoal
Nesse período em que a criança ficou internada, Cristina decidiu publicar nas redes sociais tudo o que estava acontecendo. Ela começou com um pedido de desculpas a todos que acreditavam que ela havia causado a quase morte do neto.
“Me sinto culpada. É muito doloroso tudo isso, a cena não sai da minha cabeça. Eu não tive a oportunidade de ver meu neto falando e andando, e agora vejo ele nessa situação, não me conformo”, desabafou. Contudo, o relato causou comoção nos internautas, que se manifestaram em apoio à santista.
Desde então, a cuidadora atualiza a situação do neto frequentemente na web. Algumas pessoas que se solidarizaram com a situação começaram a ajudar a família com doações de fraldas, roupas e insumos de higiene, e até com uma campanha online, já que ela e a filha estão desempregadas, vivendo com uma renda mensal de R$ 400, provindos da aposentadoria da bisavó de Rhavi.
Avó de Santos, SP, emociona a web com relatos sobre doença do neto — Foto: Arquivo Pessoal
Em casa, a situação do bebê não tem evoluído. Maria Cristina ainda tentou conseguir um tratamento de oxigenoterapia hiperbárica, utilizado em alguns casos de afogamento grave. No entanto, apesar de os pediatras da UTI se reunirem para tentar conseguir realizar o procedimento, o hospital informou que o método não seria o ideal para o caso em questão, e logo em seguida deu alta para o bebê.
“A esperança é que alguém aceite fazer esse tratamento nele. O hospital aceitou a condição do Rhavi, não lutou por ele. Não falaram se ele pode viver normalmente do jeito que está hoje. Para mim, não explicaram o porquê de não poder fazer o procedimento, não deram um encaminhamento para outro tratamento ou qualquer explicação sobre como agir agora”, explicou a avó.
Segundo Cristina, Tamires, mãe de Rhavi, nunca a culpou pelo que aconteceu. Agora, as duas seguem juntas cuidando do bebê, que luta pela vida todos os dias. “O primeiro médico disse que o esperado era que ele não tivesse sobrevivido, mas que o Rhavi está lutando muito para sobreviver. Eu tenho esperança de que ele vai conseguir. Não vou desistir do meu neto. Estou em uma tristeza profunda”, desabafa.
Bebê aguarda por tratamento médico em casa após sobreviver a afogamento em Santos, SP — Foto: Arquivo Pessoal
A oxigenoterapia hiperbárica é uma modalidade terapêutica que consiste na oferta de oxigênio puro em um ambiente pressurizado, a um nível acima da pressão atmosférica, habitualmente entre duas e três atmosferas, aplicado por um profissional médico.
De acordo com o neurologista João Luiz Cabral Junior, “a oxigenoterapia em câmara hiperbárica ainda está em experimento, não é utilizada com frequência, e consiste em colocar o paciente dentro de uma câmara fechada e aumentar a pressão de oxigênio, para maior absorção do oxigênio do paciente”.
Cabral explica que os especialistas que acompanham esse tipo de patologia são neuropediatras, para avaliar o grau de sequela e indicar as necessidades da criança. “Para fazer o procedimento, tem que ter um pedido médico. O ideal é quem vai avaliar a criança dizer se ela vai se beneficiar da oxigenoterapia sob pressão positiva”.
O especialista ainda esclarece que, passando por essa avaliação, e sendo indicado o procedimento, caso o hospital não aceite seguir com o tratamento, um advogado pode requerer uma liminar ao Judiciário para conseguir a liberação.
Família relata nas redes falta de tratamento para bebê com danos cerebrais após afogamento — Foto: Arquivo