A crise enfrentada pela suinocultura mato-grossense já é considerada a maior da história. Sem previsão de que a situação seja revertida em curto prazo, a situação financeira dos pequenos e médios produtores fica cada vez mais insustentável. Preço elevado do milho e do farelo de soja que, juntos, correspondem a mais de 80% do volume da ração fornecida aos animais, combinado com o baixo preço pago ao produtor pelo quilo do animal formam os ingredientes perfeitos para a situação caótica na suinocultura e decretam o fim da atividade para produtores de diversas regiões do Estado.
Levantamento da Associação dos Criadores de Suínos de Mato Grosso (Acrismat) aponta que os produtores estão arcando com prejuízos de até R$ 300 por animal vendido. “A conta não fecha, tem região onde o suinocultor está recebendo em média R$ 4,40 por quilo do animal, sendo que para produzir a mesma quantidade da proteína o produtor precisa desembolsar algo em torno de R$ 6,90. Para um animal de 120 kg, isso resulta em um prejuízo de aproximadamente R$ 300. Se colocarmos essa situação em uma granja que comercializa cinco mil animais por mês, o prejuízo mensal chega a R$ 1,5 milhão. A conta não fecha”, declara o diretor executivo da Acrismat, Custódio Rodrigues.
Preocupada com a situação, a associação cobra, há algum tempo, medidas emergenciais por parte do Governo do Estado para tentar aliviar as perdas, mas até o momento não foram atendidas. Entre as solicitações estão a inclusão de novas finalidades da atividade no Programa de Desenvolvimento Rural de Mato Grosso (Proder) e a redução da alíquota do Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS) incidente sobre a carne suína no comércio interno e externo.
“São situações que podem determinar a continuidade ou não na atividade de dezenas de produtores aqui em Mato Grosso. Uma atividade encerrada por falta de medidas que poderiam ter sido tomadas para evitar esse fim é muito triste. Significa ainda o fechamento de centenas de postos de trabalho, ou seja, menos renda para a população”, pontua Rodrigues.
Na tarde da última terça-feira (22.03), em um grupo de mensagens, ao menos três suinocultores mato-grossenses informaram que deixarão a atividade nas próximas semanas. É o caso do suinocultor Leonir Taffarel, de Sorriso (distante 396 km de Cuiabá), que está na atividade há 15 anos e possui uma granja de ciclo completo onde existem todas as fases da criação (gestação, maternidade, creche e terminação). “Quando não conseguimos vender o nosso produto, ele encalha e trava todo o ciclo da nossa produção e com isso a perda acontece desde o início, lá na gestação das matrizes. Infelizmente não terei mais este ‘problema’, estou saindo da atividade e terei que procurar outra coisa para ganhar a vida”, desabafou.
Ele conta que chegou a ter 300 matrizes, mas atualmente tem apenas 60. Pretende reduzir ainda mais, para cinco animais e transformar em uma criação doméstica.
“Outros dois produtores do município de Campo Verde afirmam não ter mais condições de continuar na suinocultura. São meses trabalhando no vermelho e não tem como sustentar uma atividade que não dá retorno há tanto tempo”, finaliza Custódio Rodrigues.