O avanço da destruição da Floresta Amazônica é uma ameaça à biodiversidade do planeta. Agrava ainda mais o aquecimento global. Mas os cientistas afirmam que é um erro dizer que a Amazônia é um pulmão do mundo.
Lindas, exuberantes e verdes. É como a gente se acostumou a ver as florestas. Mas é nos bastidores do reino vegetal que ocorrem alguns dos fenômenos mais importantes para nossa qualidade de vida.
As árvores suam vapor d’água. É o que os cientistas chamam de evapotranspiração. São gotículas microscópicas que saturam as nuvens de vapor d’água.
O que os olhos não veem se transforma num Rio São Francisco por dia, que sai da Floresta Amazônica e vira chuva em outras partes do país, irrigando as lavouras, enchendo os reservatórios das hidrelétricas e as estações de abastecimento das cidades.
As florestas também retêm dióxido de carbono, o principal gás de efeito estufa. Quando acontecem as queimadas, a liberação de CO2 acelera o desequilíbrio do clima. São milhões de toneladas de gás elevando a temperatura média do planeta, fora o impacto causado na qualidade do ar das cidades, como acontece agora na Região Norte.
Os cientistas também afirmam que a maior parte das espécies que vivem nas florestas ainda não é conhecida. Estima-se que apenas 15% delas foram catalogadas.
“A gente tem mais de 41 mil espécies de plantas. Só na região amazônica, são mais de 13 mil espécies de plantas. A gente tem que levar em conta ainda que esse número é subestimado. Tem um número muito grande de espécies que a gente não conhece essas espécies. Então, abrir mão disso não faz sentido algum”, disse Jerônimo Sansevro, do Departamento de Ciências Ambientais da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro.
O avanço do desmatamento e das queimadas no Brasil justificou várias mensagens nas redes sociais lembrando que a Floresta Amazônica é fundamental para o planeta, entre outras razões, porque produz oxigênio. Foi o que disseram, por exemplo, o presidente francês, Emmanuel Macron, e o secretário-geral da ONU, Antonio Guterrez.
Os cientistas lembram que, embora a Floresta Amazônica produza oxigênio, está longe de ser o pulmão do mundo.
“A Amazônia ela não altera muito o balanço de oxigênio. Ela, por exemplo, retira, anualmente, até dois bilhões de toneladas de gás carbônico da atmosfera, através da fotossíntese, e ela retorna para atmosfera cerca de 1,5 bilhões de toneladas de oxigênio. Só que 1,5 bilhões de toneladas de oxigênio é uma fração muito pequenininha, 0,001% do oxigênio do planeta”, explicou o climatologista Carlos Nobre.
Para Paulo Sérgio Salomon, oceanólogo e pesquisador da Universidade Federal do Rio de Janeiro, explica que a maior parte do oxigênio presente na atmosfera foi se acumulando em bilhões de anos nos processos de formação da vida na Terra. Para ele, tão importante quanto a floresta é o fitoplâncton, algas microscópicas que também produzem oxigênio nos oceanos.
“O avanço no conhecimento tem mostrado que essa função de produtor de oxigênio é compartilhada em aproximadamente 50% com o fitoplâncton”.
Um dos mais importantes climatologistas do Brasil, Carlos Nobre denuncia o risco de a Amazônia deixar de existir como nós a conhecemos se o desmatamento destruir pelo menos 20% da vegetação. Dados atualizados dão conta de que a destruição já alcança pelo menos 15% da floresta.
“A Amazônia é a região com maior biodiversidade, maior número de espécies do planeta se encontra na Amazônia. Então, nós teríamos uma enorme perda de biodiversidade. A Amazônia armazena 100 bilhões a 120 bilhões de toneladas de carbono na sua biomassa, em cima da floresta, nos solos. Se isso for para a atmosfera praticamente aniquila qualquer possibilidade de nós atingirmos os objetivos do Acordo de Paris, de não deixarmos o planeta aquecer mais do que dois graus”.