Dona Maria Pereira dos Santos, 61, consome 4 botijões de gás de 13 kg por semana. A quantidade é necessária para o preparo diário de 100 marmitas no seu restaurante, que são vendidas por R$ 10. Por cada botijão, ela paga R$ 84, valor (com desconto) que tende a subir a partir de janeiro motivado por mais uma alta anunciada pela Petrobras, de 5% nas refinarias, desde esta sextafeira (27). É o 3º aumento mensal seguido com impacto na mesma proporção aos consumidores, prevê o Sindicato das Empresas Revendedoras de Gás (Sinergás/MT).
O preço do botijão varia de R$ 90 a R$ 100 em Cuiabá, de acordo com levantamento da Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP). Em alguns municípios mais distantes, como Sorriso, o valor máximo chega a R$ 115. Se repassado na mesma proporção, o aumento será de R$ 4,50 a R$ 5,75 sobre os preços praticados atualmente.
Para a dona Maria, que já vem segurando repasse de outros insumos (como a carne) no preço da marmita, o impacto será imediato e poderá resultar na majoração ao consumidor. Um aumento de R$ 5 traria custos de quase R$ 100 em um mês. “Temos que partir para o fogão de lenha”, brinca a microempresária. “Vou ter que aumentar a marmita. Eu ainda nem sentei para calcular o que estou ganhando, mas estou apenas tentando manter o funcionamento”, confidencia. Ela cogita até fechar as portas do restaurante por não conseguir absorver os custos, o que colocaria os 4 funcionários na rua, além dela mesma, que seria obrigada a trocar de área de atuação. Para as famílias, o aumento do gás de cozinha também pressionará o orçamento.
A vendedora Cristiane Prestes, 41, já paga R$ 100 pelo botijão. “Cada vez que aumenta já faz diferença e aperta as contas”, diz ela. O gás é trocado todos os meses. “Tentamos cortar despesas, mas está ficando difícil diante de tantos aumentos”.
Vinicius Botura, diretor do Sinergás/MT, afirma que ainda não recebeu comunicados das distribuidoras sobre o possível repasse de aumento no preço do gás. No entanto, ele acredita que como o setor vem segurando os aumentos há cerca de 3 meses desta vez não será possível absorver a nova majoração. “Se esse impacto vier, como é previsto, será de cerca de R$ 5 para o consumidor. O curioso é que no cenário internacional o preço do gás vem caindo, e este é o 3º aumento consecutivo da Petrobras”.
Um milhão de BTUs (26,8 metros cúbicos) de gás era cotado por US$ 2,71 no começo de novembro e fechou em US$ 2,24 nesta sexta-feira no mercado internacional, que representa decréscimo de 17%. A Petrobras não justificou o aumento. Em nota afirmou que o custo de aquisição de gás natural pelas distribuidoras deverá ter uma redução média imediata de 10% no próximo ano. Isso porque a estatal renovou contratos com 12 distribuidoras estaduais com a redução de preço, que pode chegar ao consumidor.