Em um ano agitado para a indústria, uma empresa brasileira acabou sendo responsável por selar o principal acordo de M&As (fusões e aquisições) envolvendo empresas de consumo em 2022. Trata-se de Gelnex, catarinense fabricante de gelatina e colágenos, comprada pelo gigante americano Darling Ingredients pelo montante de US$ 1,4 bilhão, cerca de R$ 6,4 bilhões.
O acordo foi anunciado nesta semana, e deve ser concluído já em meados de 2023.
O core da Gelnex está na fabricação, distribuição e exportação de gelatinas e peptídeos de colágenos, matérias-primas comuns a indústrias farmacêuticas, de beleza e de alimentos. A empresa, que tem suas gelatinas fabricadas à base de proteína suína e bovina, é hoje uma das quatro principais fabricantes destes produtos no mundo, com exportações para mais de 60 países.
São, ao todo, quatro fábricas no Brasil e outras duas fora do país — uma nos Estados Unidos e uma no Paraguai — que empregam algo como 1,2 mil pessoas globalmente. Segundo a Gelnex, a capacidade produtiva de todas as plantas, somadas, chega a 46 mil toneladas de colágeno por ano.
Ainda que pouco familiar a uma grande parcela dos consumidores, os insumos da Gelnex estão por trás de produtos bem presentes no dia a dia de brasileiros, como comprimidos, produtos de beleza, vitaminas, sobremesas, barrinhas de cereais e até balinhas de goma, por exemplo.
A origem da Gelnex remete à pequena cidade catarinense de Itá, município com pouco mais de 6 mil habitantes. De lá, em 1998, foi fundada a empresa e que hoje possui seis fábricas e acordos comerciais com mais de 60 países. Antes de ser adquirida pela Darling Ingredients, a companhia era controlada por três diferentes holding e empresas de participações. São elas:
Na liderança da Gelnex está o executivo Milvo Zancanaro, CEO há 21 anos. Com a aquisição, no entanto, ainda não se sabe se o executivo permanecerá no cargo. Procurada, a Gelnex não respondeu à reportagem até o momento da publicação deste conteúdo.
A guinada no setor de saúde e nutrição motivou a transação bilionária, e levou a Darling, atual líder mundial na transformação de resíduos de alimentos em produtos sustentáveis e produção de energia renovável, a perceber sinergias e potenciais ganhos a longo prazo, nas palavras do próprio CEO, Randall Stuewe.
“Motivada por forte demanda por produtos de colágeno no mercado global de nutrição e saúde, esperamos que o segmento dobre de tamanho nos próximos cinco anos”, afirmou o presidente executivo em comunicado a investidores divulgado na última terça-feira.
Paralelo a isso está uma forte inclinação a critérios socioambientais. A Gelnex possui diversas certificações de qualidade e bem-estar animal, e carrega consigo a forte tônica de sustentabilidade e rastreabilidade de matérias-primas e, claro, dos animais que as originam. No Brasil, por exemplo, a Gelnex favorece acordos comerciais com produtores de criadores de gado sob o método de criação ao ao livre.
Listada na bolsa de Noya York e avaliada em US$ 11,9 bilhões, a Darling Ingredients é um gigante com 250 fábricas em 17 países. De acordo com a empresa, hoje é líder no reaproveitamento de resíduos da indústria de carnes em insumos e fontes de energia renováveis — como o diesel verde, por exemplo. Hoje a companhia abarca 15% deste mercado globalmente.
"Esta aquisição permitirá que a Darling continue a aumentar sua presença no mercado de saúde e nutrição e aumente nossa capacidade de produção de colágeno bovino a pasto na América do Sul para ajudar a atender o futuro demanda de nossos clientes de colágeno em todo o mundo", disse Stuewe.