A Safras Agroindústria, empresa do ex-prefeito de Sorriso, Dilceu Rossato, tenta impedir a reintegração de posse de uma área no Distrito Industrial de Cuiabá. O terreno pertence à massa falida de uma empresa que, até 2023, acumulava dívidas de R$ 800 milhões e o havia arrendado. Na última sexta-feira, a Safras entrou com um pedido na Justiça em Sinop, argumentando que, caso a reintegração da propriedade seja mantida, a empresa precisará se “blindar” contra execuções e cobranças de dívidas.
O benefício solicitado pela Safras é o chamado stay period, mecanismo concedido a empresas em recuperação judicial, que garante 180 dias sem execuções de dívidas por meio da Justiça. Na prática, a empresa do ex-prefeito, fundada em 2010 por Dilceu Rossato e Pedro Moraes Filho, já pleiteia uma recuperação judicial no valor de R$ 144,6 milhões. O pedido inclui a proibição de “constrições, bloqueios, retiradas, reintegrações de posse, busca e apreensão ou quaisquer outras medidas que prejudiquem o funcionamento da empresa”.
No processo, a Safras, que teria dívidas estimadas em R$ 2 bilhões, alega que a massa falida da Olvepar — antiga trading de comercialização de soja que pediu concordata no ano 2000 — arrendou a propriedade para uma empresa que se comprometeu a realizar investimentos na planta industrial abandonada. Posteriormente, essa empresa subarrendou o terreno para a Safras, em contratos homologados pelo Poder Judiciário em setembro de 2023.
Essa negociação pode ser vista como benéfica para os credores da massa falida, pois o valor do arrendamento teria sido repassado para quitar parte das dívidas da Olvepar. No entanto, a propriedade em questão foi originalmente doada pelo Governo do Estado, que exigia sua devolução após o encerramento das atividades da Olvepar. Apesar disso, a área permaneceu sob controle de empresários. O arrendamento foi utilizado como justificativa para evitar a devolução ao Estado. Porém, a Carbon Participações, empresa criada para representar os credores da Olvepar, entrou na Justiça solicitando a reintegração de posse. A Safras argumenta no processo que, se isso acontecer, poderá ir à falência.
“Noutras palavras, o negócio vai à falência, e não por descuido, irresponsabilidade ou má gestão, mas por fator alheio – e, com todo respeito, assustadoramente duvidoso – ao requerente. A operação da empresa, pujante até os últimos dias – já que se tem notícia que, nas últimas horas, a oficial de justiça, acompanhada de certos advogados, têm tentado impedir até mesmo a entrada de caminhões com a soja para processamento na planta industrial – será instantaneamente congelada, assentando a companhia sobre o iminente risco de solução de continuidade”, declarou a Safras Agroindústria no processo.
Na última sexta-feira (21), a 1ª Vara Cível de Sinop declinou da competência do caso para a 4ª Vara Cível do município, responsável por processos de recuperação judicial e falência. Ainda não há uma decisão definitiva.
Em janeiro de 2025, a Safras Agroindústria sofreu um bloqueio de R$ 5,3 milhões para pagamento de uma dívida com a Noroeste Grain Trade. Dilceu Rossato foi prefeito de Sorriso entre 2012 e 2016. Ele tentou a reeleição, mas foi derrotado por Ari Lafin. Sorriso, sua cidade natal, é conhecida como a “Capital das Facções de MT”.