A violência orquestrada de dentro da Penitenciária Central do Estado (PCE), em Cuiabá, tem sido um desafio crescente para as forças de segurança em Mato Grosso. Em muitos dos homicídios registrados na cidade de Sorriso, as ordens partem diretamente dos presídios, agravando a sensação de insegurança e revolta da polícia.
No caso mais recente, Weverton Lopes Souza, de 20 anos, foi encontrado morto em uma área de mata na Linha Celeste, em Sorriso, na quinta-feira, 10 de outubro. Segundo a Polícia Civil, o jovem foi brutalmente torturado por cerca de quatro horas antes de ser executado. A tortura, de acordo com o delegado Bruno França, foi transmitida ao vivo para presos da PCE, que teriam ordenado o crime. A motivação seria forçar Weverton a revelar a identidade de comparsas de sua facção, para que estes também fossem mortos.
O problema da entrada de celulares na PCE tem sido uma das principais preocupações das autoridades. O desembargador Orlando de Almeida Perri, supervisor do Grupo de Monitoramento e Fiscalização do Sistema Carcerário e Socioeducativo (GMF-MT), destacou em recente entrevista que os celulares chegam aos presos muitas vezes devido à corrupção interna. Segundo ele, o preço de um celular dentro da PCE varia de R$ 5 mil a R$ 20 mil.
“Não são apenas visitantes, familiares ou amigos dos presos que introduzem os celulares nos presídios. Sabemos, lamentavelmente, que há corrupção dentro do sistema prisional”, afirmou Perri. Ele ainda ressaltou que, embora o problema seja nacional, Mato Grosso tem adotado várias medidas para combater essa situação, como operações de varredura e a instalação de raio-x para fiscalização.
Recentemente, a Operação Raio Limpo, realizada na PCE, resultou na apreensão de mais de 100 celulares em duas grandes varreduras. Apenas nesta quinta-feira (17), durante uma varredura no Raio 7, foram encontrados 71 aparelhos celulares escondidos em colchões e buracos nas paredes e no chão das celas. Além dos celulares, porções de maconha, carregadores e armas artesanais também foram apreendidos.
Essa foi a terceira ação da operação, que já contabiliza a apreensão de 188 celulares em poucos dias. Todo o material recolhido será analisado pela perícia técnica, e um procedimento interno será instaurado para apurar as responsabilidades.
Para combater a entrada de celulares e outros ilícitos, o desembargador Perri defende uma fiscalização rigorosa, que inclui o uso de scanners para vistoriar todos que entram no sistema prisional, sem exceção.
“Eu defendo que juiz, promotor e até o governador sejam submetidos ao scanner, para garantir que ninguém entre com objetos ilícitos nos presídios”, disse o desembargador. A medida visa aumentar o controle e reduzir a corrupção que facilita o acesso dos presos a celulares.
A crescente violência ligada a facções criminosas e os constantes casos de ordens de assassinato vindas de dentro dos presídios levaram o Governo do Estado a intensificar as operações nas unidades prisionais. O estopim foi o sequestro, tortura e morte de duas irmãs, uma delas candidata a vereadora, por ordem de um líder de facção que cumpre pena na PCE.
As forças de segurança seguem realizando operações para coibir a entrada de celulares, drogas e armas nos presídios, com o objetivo de desmantelar o poder das facções criminosas e garantir a segurança tanto dentro quanto fora das penitenciárias.