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Sexta-Feira, 15 de Abril de 2022 21:07

MT: Professora é destaque nacional, após gesto que segura bebê de aluna no colo durante aula

MT: Professora é destaque nacional, após gesto que segura bebê de aluna no colo durante aula REDE SOCIAL

A foto da professora de filosofia Bruna Porto da Cunha, de 26 anos, segurando uma bebê durante a aula, tem viralizado nas redes sociais. A criança é filha de uma de suas alunas, a estudante L. J. A., de 16 anos. Na ocasião, a jovem tinha deixado a filha no carrinho, porém, estava preocupada com a pequena. SAIBA MAISProfessora segura bebê de aluna durante aula e gentileza viraliza

Em entrevista exclusiva à CRESCER, Bruna, que mora em Barra do Garças (MT), conta que quando entrou na escola, viu a bebê, de apenas 4 meses, no carrinho. "Estávamos na quadra esportiva, a escola estava fazendo uma comemoração do dia do circo. Logo, já fui até L. saber mais de sua filha", lembra a profissional. [Professora segura bebê em sala de aula (Foto: Reprodução Instagram )]Professora segura bebê em sala de aula (Foto: Reprodução Instagram )

Já dentro da sala de aula, Bruna passou uma atividade para os alunos e, ao ver que a estudante estava um pouco incomodada, resolveu ajudar. "Ela havia acabado de amamentar, vi que colocou a filha no carrinho para fazer o que se pedia, mas seus olhos e preocupação estavam na bebê, então, decidi ficar com ela no colo para que a mãe pudesse realizar sua atividade com mais calma. Como a disciplina de filosofia, infelizmente, dura somente uma aula, a aluna não tinha muito tempo para fazer as duas coisas ao mesmo tempo", explica a professora. 

Diante do gesto da docente, a adolescente sorriu: "Vi no olhar dela um misto de tranquilidade e, ao mesmo tempo, medo do incômodo", relembra Bruna. O momento foi registrado e, quando a professora postou em seu perfil no Instagram, acabou viralizando. "Jamais imaginei essa repercussão toda, tampouco os tantos relatos que recebi de outras mães que passaram pela mesma situação e venceram. Na verdade, minha página do Instagram tem de tudo um pouco, maternidade, educação, filosofia e humor", declara professora de filosofia. "Eu sempre tive em minha cabeça que por qual profissão eu estivesse, queria mudar a vida das pessoas. Me encontrei na docência e descobri o lugar perfeito para fazer a diferença", continua.SAIBA MAISAvó aos 30: mulher se torna avó mais jovem do Reino Unido depois que sua filha de 14 anos dá à luz

Essa foi a primeira vez que Bruna contou com a presença de um bebê na sala — e também a primeira vez que a aluna levou a filha para a aula de filosofia —, porém, a professora não viu problema em manter a criança na classe. "Ela leva a filha no carrinho, tem tudo que é necessário para passar a manhã com a menina na escola", explica Bruna. Na visão da profissional, todo apoio (e empatia) é muito importante. "Quando somos mães, nossos corações afloram ainda mais ao ver outra mãe se esforçando para conciliar tudo. Claro, se o bebê não estiver bem, chorando e eu vendo a mãe tensa com a situação, libero da minha aula para que ela possa se resolver sem sair prejudicada", comenta.

Com a postagem, a professora queria informar seus seguidores sobre uma realidade muito difícil: a gravidez na adolescência. "Quis relatar o problema que as meninas sofrem com a gestação precoce, a falta de apoio para elas. Os dados da evasão escolar que cresce em nosso país e o quanto o incentivo pode fazer a diferença. Eu, como mediadora entre alunos e os estudos, não poderia fazer diferente", ressalta Bruna. "Há de se averiguar por qual real motivo a mãe tem a necessidade de levar um filho para a escola. É um relacionamento abusivo? Tem apoio da família? O pai da criança é presente?", acrescenta.

A profissional enfatiza que a causa da evasão escolar por conta de uma gravidez não planejada, nessa fase tão jovem da vida, acontece principalmente pela falta de apoio e de incentivo. "Uma situação triste, sinônimo de falta de amparo. O estudo é uma das únicas garantias que uma mulher tem para poder sustentar seu filho de forma mais adequada no país em que vivemos", pontua. "Não há lei que ampare essas mães de levarem seus filhos para a escola, então cabe ao bom senso de cada instituição escolar e professores para apoiar essas mães. Quando nós, professores, demonstramos solidariedade, conseguimos passar confiança e força para essa jovem seguir em frente", defende. 

A própria Bruna também se viu numa situação semelhante, tendo que equilibrar o papel de mãe com os estudos. "Fui mãe no meio da faculdade (Bacharel em Direito na UNEMAT), engravidei aos 19, meu filho nasceu aos 20, tive que trancar e começar outra faculdade a distância (Licenciatura em Filosofia), principalmente por essa insegurança de ter que conciliar estudo e maternidade", conta a docente. Por essa razão, ela entende como é essencial que as jovens tenham o suporte necessário para enxergar a maternidade de forma mais positiva — para o bem delas e da criança que está em desenvolvimento. "Devemos mostrar que um filho só tende a somar, que ele pode ser ainda mais um incentivador de sua história. Hoje em dia, ter filho significa ter uma responsabilidade e um peso horrível, e nós podemos provar que não é bem assim".

A gravidez na adolescência

Segundo informações da Agência Brasília, o índice de gravidez na adolescência no Brasil está acima da média mundial. Em 2020, a cada mil brasileiras entre 15 e 19 anos, 53 tornaram-se mães. No mundo, são 41, conforme relatório lançado pelo Fundo de População das Nações Unidas (Unfpa). A média da América Latina é de 62 meninas, a cada mil, que engravidam nessa faixa etária.

Infelizmente, algumas dessas jovens acabam deixando a escola. Segundo informações do Boletim Aprendizagem em Foco, divulgado em 2016, com base nos dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad), do IBGE, do total de 1,3 milhão de jovens de 15 a 17 anos fora da escola sem Ensino Médio concluído, 610 mil são de mulheres.

Entre essas mulheres que abandonaram a escola precocemente, mais de um terço delas (o equivalente a 212 mil) já eram mães. Entre as 4,2 milhões de mulheres que ainda estavam estudando, apenas 95 mil já eram mães — 2% do total das que ainda estudavam. 

 

Fonte: CRESCER

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