A Justiça converteu em preventiva a prisão de dois suspeitos que tentaram incendiar um caminhão para bloquear o trânsito em Sinop, a 503 km de Cuiabá. A decisão é do juiz federal Jeferson Schneider, da 5ª Vara Criminal, e foi publicada nesta quarta-feira (23).
Olair Correia e Danilo José Ribeiro de Souza foram presos, na segunda-feira (21), por atos análogos a terrorismo e porte ilegal de armas, de acordo com a Polícia Militar. Eles foram flagrados ao abordar um caminhão que não parou nos bloqueios e, com isso, os suspeitos foram atrás do motorista.
Um dos suspeitos, o produtor rural Olair Correa, pedia dinheiro e transferências bancárias para custear despesas, como alimentação, em atos às margens das rodovias.
Olair Correia pedia dinheiro por Pix para custear atos antidemocráticos em rodovias — Foto: Reprodução
O Ministério Público Federal se manifestou pela conversão da prisão em flagrante para preventiva e pediu autorização de acesso aos dados telefônicos dos celulares dos investigados. Os pedidos foram acatados pela Justiça.
Na decisão, o juiz apontou que os atos cometidos são considerados "violência político-partidária".
"Há fortes indícios de que os delitos foram motivados pela insatisfação dos investigados com o resultado das últimas eleições presidenciais e a busca por sua reversão de modo antidemocrático, conforme se observa dos depoimentos dos condutores do flagrante e das mídias juntadas pela Polícia Federal", diz trecho da decisão.
Os dois foram presos em um bar pela Polícia Militar. Durante a abordagem, a equipe apreendeu uma arma de fogo calibe 380, dois carregadores e 36 munições, quase R$ 1 mil em dinheiro, nove galões de gasolina, quatro facas e facões, quatro isqueiros, duas sacolas com estopas e um estilingue.
O g1 tenta contato com a defesa dos suspeitos.
Mato Grosso tem sido um dos principais focos de bloqueios antidemocráticos. Desde o dia 30 de outubro, o estado vem registrando intervenção de grupos contra o resultado das urnas em rodovias. Mesmo após a redução dos pontos de bloqueio pelo país, a mobilização vem se mantendo e motivou a intervenção da Justiça nos últimos dias. Até essa segunda-feira (21), o estado tinha 19 pontos de bloqueios.
Para ajudar na desobstrução das rodovias, os Ministérios Públicos Federal (MPF) e Estadual em Mato Grosso (MPMT) recomendaram que fosse solicitada a utilização da Força Nacional de Segurança Pública.
O governador em exercício, Otaviano Pivetta (PDT), disse em uma coletiva de imprensa realizada nessa terça-feira (22), que até o momento, não é necessário solicitar ajuda da Força Nacional.
Ainda na manha de terça-feira, com ajuda de 100 policiais, 19 pontos de bloqueios em rodovias federais e estaduais de Mato Grosso foram liberados, de acordo com o Gabinete de Crise do governo estadual. Os policiais usaram maquinários para limpar as barreiras feitas para fechar as estradas.
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A PRF informou, na segunda-feira (21), que 14 pessoas haviam sido presas até então. Com elas, foram apreendidos armas e aparelhos celulares, que devem ajudar nas investigações para identificar organizadores e financiadores dos atos antidemocráticos.
A polícia também encontrou ligações entre o atentado a um posto de atendimento da Concessionária Rota do Oeste, em Nova Mutum, a 269 km de Cuiabá, e os bloqueios das estradas. No fim de semana, um grupo incendiou uma ambulância e um guincho, atirou em outros veículos e rendeu funcionários.
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Na última sexta-feira (18), um homem de 53 anos foi agredido ao tentar passar pelo bloqueio feito por manifestantes na BR-174, em Pontes e Lacerda, a 483 km de Cuiabá, de acordo com a Polícia Civil.
Ainda conforme a polícia, por volta das 8h, a vítima trafegava pela rodovia quando foi parada e impedida de seguir viagem. Com isso, os manifestantes colocaram pallets na frente do carro para que ele não passasse.
A vítima avançou sobre o bloqueio e, então, começou a ser agredida e ficou com ferimentos nas costas, informou a polícia.
No domingo (20), estudantes precisaram andaram mais de 5 km para conseguir fazer a segunda etapa da prova do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem). Eles são de Bom Jesus do Araguaia, a 983 km de Cuiabá, e estavam em um ônibus que seguia para Querência (MT).
Segundo os alunos, os manifestantes estavam armados e colocaram postes no meio da pista para que ninguém conseguisse passar. Depois de muita insistência, conforme relataram, eles convenceram os manifestantes e passaram pelo bloqueio a pé.
Estudantes de Bom Jesus do Araguaia tiveram que ir a pé fazer o Enem devido aos bloqueios — Foto: Reprodução