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Domingo, 25 de Junho de 2023 22:52

Sorriso é uma das cidades com mais presença de animais silvestres no perímetro urbano

Nos últimos dias nos deparamos com dois casos de animais silvestres no estado de Mato Grosso, dentro do perímetro urbano. Um bando de Capivaras – filhotes e adultas – entrando no prédio da Assembleia Legislativa, em Cuiabá. E o susto de moradores, do município de Sorriso, que viram uma onça-pintada jovem buscar refúgio na lavanderia de suas casas.  

A impressão que temos é de que esses animais estão se aproximando com mais facilidade dos seres humanos, fazendo com que situações, como as citadas acima, aconteçam cada vez mais. E esse fenômeno tem nome: auto domesticação.  

Sorriso: Onça-pintada morre atropelada na BR-163

Para a Professora, Doutora e Pesquisadora da Universidade do Estado de Mato Grosso (Unemat), Eveline Teixeira Baptistella, esse é o maior fenômeno de auto domesticação da história.  

“Os animais silvestres estão perdendo o habitat e as condições de vida, inclusive pra se alimentar. Então, eles precisam migrar para onde possam viver” afirma Eveline. Ela, que tem experiência em estudos sobre a relação dos animais humanos e não humanos, ainda defende que esses animais silvestres deveriam ser tratados como “refugiados ambientais”.  

A pesquisadora ainda exemplifica que quando nos mudamos para outra cidade, precisamos nos adaptar aquele lugar, às vezes precisamos até mudar o nosso comportamento. E isso também acontece com os animais, que se adaptam ao cotidiano urbano.  

“A submissão e o comportamento dócil são essencial. Então esses animais auto domesticados param de evitar o contato com os seres humanos e acabam aceitando essa aproximação humana, ficando mais dóceis para sobreviver” relata a professora da Unemat.

Com relação a preocupação do aumento de casos desses animais em perímetros urbanos, Eveline afirma que estuda sobre essa situação há mais de dez anos e que isso já acontecia em Cuiabá, na época. Além disso, ela afirma que essa situação está acontecendo no mundo todo. “Se fizermos uma pesquisa na internet vamos ver os Alces no Alasca que entraram em um hospital para comerem plantas do jardim” relata.  

Para a professora, a sociedade precisa parar de considerar essas situações como pitorescas. “A mídia e as redes sociais estão infestadas de vídeos narrando os animais silvestres como fofos e bonitinhos, quando na verdade estão visivelmente acuados e impressionados, porque as condições de vida deles estão sendo destruídas”.  

O desafio que a gente tem é imenso e precisamos que o poder público se sensibilize pra isso e que a imprensa também se sensibilize, porque a imprensa tem um poder muito grande na transformação cultural

De acordo com Eveline, a sociedade precisa pensar nesse sofrimento animal e se organizar para lidar com isso da melhor maneira, porque isso demanda uma mudança cultural na sociedade. Afinal, estamos dividindo espaço com esses animais, logo precisamos começar a olhar para eles como cidadãos, que precisam de respeito.  

Essa mudança cultural se faz necessária, segundo a pesquisadora, devido ao que ela chama de “interação negativa” e que a imprensa costuma divulgar como os ataques de animais silvestres aos seres humanos.

“Quando vemos nas redes sociais uma capivara de vestido, achamos engraçado e tal, mas isso manda uma mensagem muito ruim para a sociedade. Isso porque as pessoas acham que é normal fazer isso. Então vai uma pessoa lá no Parque das Águas, em Cuiabá, e abraça uma capivara, aí acontece o que chamamos de interação negativa e esse animal recebe o selo de agressivo pela imprensa e pela sociedade e é morto”.

Para a pesquisadora, precisamos parar de utilizar o termo “ataque”, especialmente pelas grandes mídias. “Precisamos saber o peso das palavras. A palavra ataque já tem dentro dela um conteúdo de agressividade e muitas vezes, ouso dizer todas as vezes, existe ali um comportamento de defesa, uma expressão natural que até nós, seres humanos, temos comportamentos agressivos quando não nos sentimos confortáveis”, ressalta.

Por fim, Eveline afirma que a sociedade precisa encarar essa situação da melhor maneira possível, mostrando a importância disso paras as crianças nas escolas e falando sobre os direitos dos animais para toda a sociedade. “O desafio que a gente tem é imenso e precisamos que o poder público se sensibilize pra isso e que a imprensa também se sensibilize, porque a imprensa tem um poder muito grande na transformação cultural”, finaliza.

MIDIAJUR

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