Em um vídeo publicado nas redes sociais nessa quarta-feira (05/03), o engenheiro-agrônomo Ian Gorziza mostra uma onça-preta sentada próxima a uma lavoura de milho, na beira de uma estrada na região de Sorriso/MT.
Raríssima, a onça-preta atrai o olhar por sua beleza incomum, mas, o local em que foi vista acende um alerta sobre a perda de território da espécie!
Onça-preta vista em MT
Ao Primeira Página, o biólogo Marcos Ardevino, explicou que a onça-preta possui, na verdade, uma condição genética rara chamada melanismo, que faz com que o animal tenha coloração escura. Mas, ainda assim, é possível ver em sua pele, as rosetas e pintas características da onça-pintada.
Conforme o biólogo, não há estimativa oficial para o número de onças-pretas existentes no Brasil, já que são animais muito raros e difíceis de serem observados na natureza.
Existem registros da onça-preta em locais de mata tropical úmida, como Floresta Amazônica e Mata Atlântica, além do Cerrado brasileiro, por exemplo.
Mas, ela nunca foi observada na região do Pantanal, já que é um bioma com muitos ambientes abertos, o que poderia dificultar a caça dos felinos melânicos, devido à falta de sombras – diferente do que acontece em regiões de matas úmidas.
Então, a explicação para a presença da onça-preta próximo à lavoura na BR-163 seria pela localização da região, seria uma região de transição entre o Cerrado e Floresta Amazônica, o que poderia ter criado um “corredor” de passagem dessa onça de matas úmidas até ali, como explica Marcos.
No vídeo, é possível ver que a onça está sentada próximo à mata, como se observasse o local em sua volta. Ao notar a presença do engenheiro, ela se levanta e foge por dentro do arbusto.
Cena linda, mas é um alerta!
A presença do animal ali naquela região, segundo Marcos, acende um alerta sobre a perda de território dos animais silvestres!
“Isso aí é mais um exemplo que mostra que esses bichos estão perdendo território para o agronegócio. É uma cena triste do ponto de vista de qualquer pessoa que entenda de conservação, a gente sabe que esses bichos estão sendo pressionados. Se a gente derruba matas para plantar ou criar qualquer coisa, a gente pressiona esses animais a ficarem em espaços cada vez menores e aumenta a competição entre as espécies, prejudicando a diversidade natural”, pontuou Ardevino.
Conforme Marcos, as populações de onça-pintada são pequenas e espalhadas por diferentes regiões do Brasil. Com o passar do tempo, os territórios desses animais vem diminuindo, não só pela ação agrícola, mas pela caça humana.
Para se ter uma ideia, as únicas populações de onças-pintadas consideradas viáveis geneticamente dentro do país estão na Floresta Amazônica e Pantanal.
Com populações menores e cada vez mais isoladas, há uma tendência de diminuição do pool genético – quantidade de genes diferentes para reprodução de novos indivíduos saudáveis da mesma espécie.
Esse cenário leva ao cruzamento de onças da mesma família, o que enfraquece o gene e gera o nascimento de felinos com problemas genéticos, além de ser o ponto de partida para a extinção da espécie.
Por isso, a importância da criação dos chamados “corredores ecológicos” entre diferentes ecossistemas, para permitir a transição dos felinos por diferentes áreas e frear a possibilidade de desaparecimento deles.