A colheita do milho chegou a 96,08% da área total em Mato Grosso. Nesta safra 2022/23, a produtividade média estimada no estado pelo Instituto Mato-grossense de Economia Agropecuária (Imea) ultrapassa as 113 sacas por hectare, 11% acima da registrada na última temporada. Em Vera, região médio-norte, muitos agricultores ficaram frustrados com os resultados no campo e na comercialização do cereal. O que coloca em dúvida a área destinada no ano que vem.
Na propriedade do produtor Thiago Strapasson 30% do milho colhido nesta safra está armazenado a espera de melhores preços. Além disso, o agricultor ainda procura respostas para o fraco desempenho da lavoura nesta temporada, que registrou uma média de 20 sacas a menos que no ciclo 2021/22.
“Colhemos bem menos do que se imaginava. Foi uma decepção. Fizemos um investimento bem alto esperando atingir números melhores. Até o momento não sabemos o porquê”, diz ele ao frisar ter semeado o grão dentro da janela ideal e que as lavouras receberam a chuva na medida certa.
O resultado negativo somado a atual desvalorização do grão, que em julho fechou na média de R$ 34,40 a saca de 60 quilos no estado, conforme o Imea, pode colocar o protagonismo da cultura na segunda safra na propriedade o agricultor no ano que vem em risco.
“Dessa safra de milho nós levamos uma aula. Uma aula bem dura, aonde nós fizemos toda a nossa tarefa bem certinha e chegou na hora fomos reprovados. Então para nós hoje já está decidido dentro da fazenda de plantar só 30% da área de milho para a próxima safra. Quem tiver oportunidade de reduzir um pouquinho chegou o momento de recuar e deixar o mercado sentir isso também. O lucro está aqui dentro do armazém, não sabemos se vamos ter preço para ter lucro, ou se não vai ter e continuar do jeito que está para ter prejuízo”, frisa Thiago.
A situação quanto a produtividade em Vera é considerada preocupante, conforme o presidente do Sindicato Rural, Rafael Bilibio. Ele pontua que a expectativa era de uma produção superior à registrada na temporada 2021/22. Entretanto, o que se viu foi um recuo na produtividade entre 7% e 10%.
“Acreditamos que colhemos 7% a menos que o ano passado em produtividade por hectare. Todas as lavouras apresentaram uma queda de 7% a 10% em relação ao potencial visto o ano passado, até pelo tamanho da área plantada”.
De acordo com Bilibio, acredita-se que o município de Vera tenha plantado mais de 110 mil hectares de milho nesta safra 2022/23.
“Pela expectativa de produção se calculava que não iria ter espaço para todo esse milho e não foi o que foi visto esse ano. Os armazéns receberam, está lá para comercializar, mas não teve aquele monte de imagens de milho à céu aberto que a gente costumava ver nos outros anos”,
O presidente do Sindicato Rural de Vera destaca que o município conta ainda com 50% da produção de milho para comercializar. “Agora com o preço pela metade, R$ 30, R$ 35 a saca, a rentabilidade com certeza vai ser bastante comprometida a ponto que em certos casos dará prejuízo”.
Em meio ao cenário preocupante, os agricultores mato-grossenses também questionam o padrão rigoroso adotado por algumas empresas na hora de classificar o milho. Eles consideram exagerados os descontos praticados nesta safra.
“Esse ano está sendo anormal, um ano em que o produtor está sendo castigado. Tem um grão de qualidade e eles tentam achar argumento, coisa que em outros anos não ocorria. Esse ano foi um ano em que na classificação você tinha que tirar o tempo para ficar acompanhando carga por carga. Teve muitas cargas que tivemos que descarregar, carregar de novo, até desdobrar a situação e resolver porque não tinha nada de errado, mas a pressão era grande”, comenta Thiago Strapasson.O presidente do Sindicato Rural de Vera, Rafael Bilibio, conta que “a classificação continua sendo um problema para o produtor”.
Na avaliação de Rafael Bilibio, a lição que se pode tirar da safra 2022/23 diante de tantas “decepções” é “que os custos precisam ser travados, precisam ser contratados para se fazer a cultura do milho através de contratos futuros, de negociações e que não se acreditasse tanto assim em uma cultura que o preço pudesse subir indiscriminadamente e infinitamente através do tempo. Temos que entender que a cultura do milho ela tem que continuar sendo uma segunda safra, não pode compor nosso quadro como principal fonte econômica, temos que ir com mais calma nela e sempre travar os custos antecipados”.